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On Falling from Grace – author and reader

This post includes my clarifications (in the guise of a response) to a few points/interpretations raised by Emanuel Melo regarding a few essays in Beyond Bullfights and Ice Hockey.  I deemed the response  necessary and relevant in light of his interpretations of my Canada Reads essay, and in particular, amid the present high-profile event of the Jian Ghomeshi trial. The original intent of the essays under discussion, and his interpretation on some details, were so unexpected and so far from my original intent that I needed to present my interpretation. This response was originally sent to Emanuel by email. He found the points valuable and suggested I included the response in a sequential exchange in order to expand the reader’s understanding of the essays. As you’ll see, the response is in portuguese. In time I expect to post the full english translation for a wider readership.

(…)

No que diz respeito ao teu texto sobre o meu livro de ensaios, agradeço a minuta atenção que dedicaste ao livro. Admiro a intimidade das tuas palavras como leitor apaixonado, assim como a franqueza emocional ao revelar esse leque de reações ao livro. Fiquei particularmente sensibilizado pela tua honestidade ao revelares esse desalento, deceção, my falling from your grace, ao ler os ensaios em que a discordância com o texto criou separação e um desligar afetivo entre o leitor e o escritor. Esses são momentos e palavras de tanta importância como os momentos em que nos encontrávamos em sintonia. Como aludi nos ensaios “Story” e “Mass Storytelling”, eu não desejo ser idolatrizado, concordado em pleno. Na verdade abraço as divergências pois permite expandir a janela da existência, da perceção, e esse reflexo e reflexão oferece mais complexidade sobre as questões debruçadas, e mesmo muito mais complexidade, quer na relação entre o leitor e escritor, entre amigos, entre família, entre amantes. Essa textura da diferença ainda que minuciosa, sendo respeitada, pesquisada, elaborada e conversada, oferece mais do que um percurso linear na busca de contínua elucidação. Um trajeto direto, plano e sem sobressaltos ou surpresas, um trajeto em que já se antecipava a consonância total, pode adormecer a mente. Penso que esse momento de dissonância que gera o sobressalto é uma das chaves de sucesso para qualquer relação humana. O momento de realização da diferença e o apreciar dessas diferenças, especialmente quando são periféricas e complementares. É nesse momento que as relações humanas em todos os seus âmbitos e modalidades muitas vezes falham, quando essa utopia da comunhão total se desmorona e a nova realidade não consegue ser integrada. Quando são divergências fundamentais aí o desafio é enormíssimo, claro.

Outro ponto que gostaria de salientar no teu comentário é a tua leitura que só menciona um aspeto do texto sobre o Canada Reads, que foi escrito pré-Ghomeshi escândalo. No ensaio já questionava o Jian (o qual continuo a considerar como um entrevistador de muita sensibilidade e dos melhor preparados e corajosos que já vira a abordar questões delicadas com tato, pelo menos nas entrevistas que o ouvi no programa Q da CBC), isto vis a vis o paradoxo que questiono nesse texto … de como poderia ele com essa sensibilidade demonstrada como entrevistador, por outro lado ser cúmplice de um programa com raízes tão agressivas e competitivas. Dirigia ele a locomotiva do Canada Reads ou era somente passageiro de olhos fechados e em cumplicidade inconsciente e silenciosa, colhendo os louros da fama e dos cifrões? O futuro demonstrou que essa agressividade ou violência não lhe eram estranhas e ele como muitas das pessoas vivem com paradoxos em que facetas públicas e pessoais se compartimentalizam ou emergem em áreas estanques. Podemos ser sensíveis e sensatos numas áreas e toscos e brutos noutras … ou atores, dependendo da existência de uma audiência ou não. Daí que na minha opinião esse texto já questionava algo incoerente sobre o homem e apontava para essa violência latente e que ninguém publicamente se atrevia a mencionar. Pelo menos ninguém do meu conhecimento ou das minha leituras.

Um último ponto é uma clarificação sobre o ensaio da profissionalização ou critérios de qualidade da escrita nesta nossa era em que todos molham o seu pé nela. Não era meu objetivo melindrar todos os que escrevem, mas sim defender graus de exigência e qualidade na escrita para dignificar a profissão ao encontro do que existe noutras atividades ou profissões. Todavia nas artes de expressão criativa clássicas, desde a pintura à escrita, da música à escultura, etc.. parece ter-se banalizado e amalgamado tudo e todos, o que não dignifica a profissão nem o trabalho, e muito menos a arte. Daí que se veja um aumento vertiginoso de lixo, de menos arte, nas palavras que nos rodeiam, e em contextos ou locais literários em que se esperava mais asseio, polição e critério. O lixo sempre existiu em todas as facetas da nossa existência, a sua proliferação é que parece agora incontrolável. Da mesma forma que se vê a inundação de produtos de fabricação e de fraca qualidade vindos da China, consequentemente de pouca duração, e que criaram uma desconfiança perpétua a tudo o que é produzido na China. Feito na China passou a ser sinónimo de fraca qualidade. Não desejo que tal aconteça às palavras, ao mundo da escrita, simplesmente porque nos abstemos de lutar por critérios de qualidade e distinção nos templos mais elevados da sua prática. Como mencionaste, esse ensaio é certamente um texto mais cerebral, cortante, analítico e académico.

De qualquer forma, e aparte esses esclarecimentos de menor grau que agora escrevi, queria agradecer-te profundamente teres partilhado essas impressões comigo. Sou um escritor sortudo ao beneficiar dessa tua generosidade e coragem incomensuráveis. Como mencionei num dos ensaios do livro, nos dias de hoje é quase inexistente a recensão que apresenta um debruçar tão profundo sobre um livro. Mas tu foste bem mais além. Não é só a extensão do texto, mas a sua qualidade emocional e íntima que se vê revelada perante a leitura do livro. Em geral o crítico literário está muito preocupado em soar inteligente, competente, culto e erudito e não revela o seu coração e alma de forma tão despida. No entanto essa tua intimidade, de compromisso para com o texto lido e pelo texto gerado pela leitura, é fresca devido à tua honestidade. Feito raro. No dia que encontrarmos mais comentários críticos em que se aliará a acutilância da mente com as verdades íntimas do coração ao percorrer um texto teremos uma arte da crítica literária vibrante. É essa aliança que tem faltado ao mundo das recensão.

Emanuel, provavelmente terás iniciado uma nova era e padrão de interação crítica com os livros num fórum público. Espero que seja seguida. Gostaria imenso de partilhar esse texto com outros leitores (…)

Abraço grande,
paulo
Janeiro de 2016

 

translation in progress

(…) I would like to address your comment on the Canada Reads essay highlighting a minor point in the text (which was written pre-Ghomeshi scandal), but which might distort the understanding of that essay for those who have not read the book. In the essay I already questioned Jian’s role (which I still regard as an interviewer of great sensitivity, subject prepared and courageous. One of the best I had seen addressing sensitive matters with tact, at least in the interviews I heard on the CBC Q program), this vis à vis the paradox that I questioned in that text … how could he show such sensitivity toward an interviewee and on the other hand be complicit in a program with roots as aggressive and competitive as Canada Reads. Did he drive the locomotive of Canada Reads or was he a mere passenger with closed eyes, unconscious and silently complicit, reaping the rewards of fame and dollars? The future showed us that aggression or violence were not strange to him. He, like many, lives with paradoxes where public and personal facets are compartmentalized or only emerge in sealed off areas. We can be sensitive and sensible in some areas and rough and brute in others… or even actors, depending on the existence of an audience or not. Therefore, in my view, this essay already questioned something incoherent about the man and pointed to this latent violence who no one publicly had dared to mention. At least not to my knowledge or in my readings.

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