Gary Geddes – poema
Sandra Lee Scheuer
( Assassinada na Universidade do Estado de Kent, a 4 de Maio de 1970, pela Guarda Nacional de Ohio )
Gary Geddes
Poderias tê-la encontrado num sábado à noite
a talhar círculos exactos, pela esquerda, no rinque de patinagem
Moon-Glo, ou a caminhar apressada
entre a cidade universitária e a casa verde de dois andares,
onde o quarto estava sempre arrumado, a cama feita,
os livros a confraternizar nas estantes.
Ela não arremessou pedras, estudava filosofia
ou incendiou edifícios, embora os seus conhecidos afirmem
que ela detestava guerra, tinha ouvido falar do Camboja.
Na realidade ela usava um nadinha de maquilhagem, soutien,
e poderia, sem dúvida, mais facilmente ter casado com um dos guardas
do que amaldiçoá-lo ou colocar-lhe uma flor no cano da carabina.
Enquanto os arsenais de armas ardiam ela estudava,
debruçada sobre apontamentos, livros de terapia linguística, páginas
abertas nos capítulos sobre debilitações, fisiologia.
E enquanto estudantes se congregavam e protestavam nos espaços públicos
ela ajudava um rapaz de pronúncia ceceada chamado Billy, dizendo
Sibila, Billy, como uma cobra. Isso mesmo, SSSSSSSS,
a língua bem erguida e por trás dos dentes.
Agora zumbe, Billy, como uma abelha. Sentes o ar
a vibrar na minha corda vocal quando respiro?
Quando ela atravessava o parque de estacionamento sob o sol
do meio-dia, sentindo o mundo um lugar fugaz e encantador,
um jovem guarda, de olho nela,
ajoelhava-se como se fosse propor.
A sua declaração, sem equívocos, nítida,
floresceu dentro dela, atravessou-lhe o pescoço,
cortou-lhe a traqueia, roubando-lhe o ar.
Agora quem vai queimar as pestanas ao lado do Billy,
assegurar a liberdade ténue do seu discurso?
E quem a verá patinar no rinque de patinagem
do Moon-Glo, as oito pequenas rodas de madeira
em infinitas revoluções pelo soalho?
tradução paulo da costa
Sandra Lee Scheuer
Gary Geddes
From: The Acid Test, 1980
(Killed at Kent State University, May 4, 1970 by the Ohio National Guard)
‘You might have met her on a Saturday night,
cutting precise circles, clockwise, at the Moon-Glo
Roller Rink, or walking with quick step
between the campus and a green two-storey house,
where the room was always tidy, the bed made,
the books in confraternity on the shelves.
She did not throw stones, major in philosophy
or set fire to buildings, though acquaintances say
she hated war, had heard of Cambodia.
In truth she wore a modicum of make-up, a brassiere,
and could no doubt more easily have married a guardsman
than cursed or put a flower in his rifle barrel.
While the armouries burned, she studied,
bent low over notes, speech therapy books, pages
open at sections on impairment, physiology.
And while they milled and shouted on the commons,
she helped a boy named Billy with his lisp, saying
Hiss, Billy, like a snake. That�s it, SSSSSSSS,
tongue well up and back behind your teeth.
Now buzz, Billy, like a bee. Feel the air
vibrating in my windpipe as I breathe?
As she walked in sunlight through the parking-lot
at noon, feeling the world a passing lovely place,
a young guardsman, who had his sights on her,
was going down on one knee, as if he might propose.
His declaration, unmistakable, articulate,
flowered within her, passed through her neck,
severed her trachea, taking her breath away.
Now who will burn the midnight oil for Billy,
ensure the perilous freedom of his speech;
and who will see her skating at the Moon-Glo
Roller Rink, the eight small wooden wheels
making their countless revolutions on the floor?