Image – Nuno Júdice
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translated by paulo da costa
The man who talked to himself in munich’s central station
what language did he speak? What language speak those lost like that, on
platforms of train stations, at night, when no
kiosk sells newspapers or coffee? The munich
man asked me for nothing, he didn’t even look
as if he needed anything, meaning, he looked
like someone who had arrived at the last stage
the stage of someone who does not even need himself. Although,
he spoke to me: in a tongue not resembling a language
among those capable of expressing emotion
or feeling, limited to a sequence of sounds whose logic
the night contradicted. Was he asking me if by any chance I understood
his language? Or did he want to tell me his name and where he was from
— at such an hour when no train was
about to arrive or leave? If he had told me this,
I would have told him that I too was waiting for no one,
nor was I saying goodbye to someone, in that corner of a german
station, though I could remind him that some meetings depend only
on chance, not requiring a previous arrangement
to occur. That is when horoscopes acquire meaning,
and life itself, beyond them, lends meaning to the solitude that pushes
someone toward an empty station, at an hour when newspapers
are not bought or coffee drunk, restoring a touch of soul to the absent
body — enough to establish a dialogue, although
both are each other’s shadow. Since, at certain hours of the night, no one
can be certain of one’s own reality, not even when another,
like myself, witnessed all the loneliness in the world
dragged through senseless meandering sentences in a dead station.
(…)
excerpt ©paulodacosta
from: The Cartography of Being, LPO 2012 –
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IMAGEM
O homem que falava sozinho na estação central de munique
que língua falava? Que língua falam os que se perdem assim, nos
corredores das estações de comboio, à noite, quando já nenhum
quiosque vende jornais nem cafés? O homem de
munique não me pediu nada, nem tinha ar de
quem precisasse de alguma coisa, isto é, tinha aquele ar
de quem chegou ao último estado
que é o de quem não precisa nem de si próprio. No entanto,
falou-me: numa língua sem correspondência com linguagem
alguma de entre as possíveis de exprimirem emoção
ou sentimento, limitando-se a uma sequência de sons cuja lógica
a noite contrariava. Perguntar-me-ia se eu compreendia acaso
a sua língua? Ou queria dizer-me o seu nome e de onde vinha
— àquela hora em que não estava nenhum comboio
nem para chegar nem para partir? Se me dissesse isto,
ter-lhe-ia respondido que também eu não esperava ninguém,
nem me despedia de alguém, naquele canto de uma estação
alemã; mas poderia lembrar-lhe que há encontros que só dependem
do acaso, e que não precisam de uma combinação prévia
para se realizarem. -— É então que os horóscopos adquirem sentido;
e a própria vida, para além deles, dá um sentido à solidão que empurra
alguém para uma estação deserta, à hora em que já não se compram
jornais nem se tomam cafés, restituindo um resto de alma ao corpo
ausente — o suficiente para que se estabeleça um diálogo, embora
ambos sejamos a sombra do outro. É que, a certas horas da noite,
ninguém pode garantir a sua própria realidade, nem quando outro,
como eu próprio, testemunhou toda a solidão do mundo
arrastada num deambular de frases sem sentido numa estação morta.