Português
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notas de rodapé
Depois da publicação e aclamação, em terras canadianas, de The Scent of a Lie – livro de contos premiado internacionalmente –, o escritor luso-canadiano paulo da costa estreou-se na língua de Camões com o livro de poesia notas de rodapé. Livro solidamente trabalhado ao longo de mais de dois anos, segundo nos confidenciou o autor, notas de rodapé tem na diversidade temática uma das suas características mais fortemente identitárias. Da reinterpretação mitológica patente no poema “édipo antes de édipo?” ao poema de pendor autobiográfico “gelo canadiano”, das paisagens intimistas de “tão longe, tão perto” à crítica de costumes de “peregrinação”, da composição quase cinematográfica da sequência dos três poemas que…
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Esquina Do Mundo
– entrevista com Luís Filipe Ferreira Entrevista publicada no primeiro numero da Revista Literária Esquina do Mundo do Centro de Estudos Ferreira de Castro. O primeiro livro aos 37 anos. Quais as razões desta demora? O fruto maduro é mais saboroso. “The Scent of a Lie” foi muito bem recebido pelo mundo literário canadiano e não só. Fale-nos um pouco sobre isso…Sei que não estava à espera de uma recepção tão calorosa… Sim, o livro foi calorosamente recebido tanto pelo público leitor como pela critica literária canadiana. As recensões são unânimes em considerar o livro e a escrita como uma lufada de ar fresco no mundo das letras canadianas.…
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efêmero
paulo da costa (tradução de Mauro Faccioni Filho, Brasil) passo a passo cavo vales sob cada pisada a formiga escala montanhas de areia recém erguidas esta é a força a moldar o mundo cada pernada, junto da areia molhada vai mais fundo, dura o mais breve momento como uma onda estende sua língua acariciando a praia e pegadas deixam-me como se eu nunca tivesse caminhado aqui sem título paulo da costa (tradução de Mauro Faccioni Filho, Brasil) gota a gota uma garoa surge leve, quase amável, sufocante céu, o ruído de um homem ou uma mulher lutando querendo ir pro sul ali bem perto de uma…
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At Home in Two Cultures
A citizen of the world examines his multicultural identity paulo da costa, in conversation with Fernanda Viveiros In the words of Saint Augustine, “The world is a book, and those who do not travel read only a page.” It could be said that writer paulo da costa has read many pages since immigrating to Canada in the late 1980s. Born in Luanda, Angola, and raised in Portugal, paulo has traveled throughout Europe and Brazil, lived in Calgary and on Cortes Island, and recently touched down in Silverton, a tiny hamlet in the Kootenay mountains. Now settled in Victoria, he is preparing to leave for a month-long stay in Portugal where…
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De Calgary com sabor (e saber) português
De Calgary com sabor (e saber) português Um novo Livro com “raízes” portuguesas Fernando Cruz Gomes “The Scent of a Lie” é um novo livro do escritor luso-canadiano Paulo da Costa, cujo lançamento foi agora feito pelas Ekstasis Editions, em Victoria, BC..”The Scent of a Lie”, escrito em inglês, contém um conjunto de catorze contos entrelaçados que decorrem numa vila fictícia situada no Norte de Portugal. Paulo da Costa entende a vida como “uma marcha rumo a uma maior perfeição” que se atinge, talvez, “trabalhando, trabalhando muito”. O que o faz andar é, afinal, “acreditar numa visão do mundo e da condição humana plenas de esperança, uma visão que vive…
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Margaret Atwood – um poema
Margaret Atwood nasceu em Ottawa, Ontario, Canadá, em 1939. Uma das escritoras mais conhecidas nas letras canadianas. Poeta, romancista, ensaísta, crítica literária e feminista, Atwood já recebeu inúmeras distinções nacionais e internacionais incluindo o Booker Prize. Espargos Esta tarde um homem inclina-se sobre os pães e a manteiga encaracolada, e confessa-me tudo: duas mulheres amam-no, ele também as ama, que deveria ele fazer? O sol cai polvilhado pelo imperceptível e castanho ar urbano. Eu vou sofrer com isto: corar, ganhar bolhas de água ou então cancro. Petisco espargos à mão, ele atira-se para a descrição. Está desesperado, enjaulado no seu próprio frenesim. Tem migalhas na barba.…
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Michael Ondaatje – poema
O DESCASCADOR DE CANELA Michael Ondaatje tradução paulo da costa Se eu fosse um Descascador de canela cavalgaria a tua cama e espalharia o pó amarelo da casca na tua almofada. Os teus peitos e ombros tresandariam nunca poderias passear pelos mercados sem a profissão dos meus dedos a ondular sobre ti. Os cegos tropeçariam seguros de quem se aproximavam muito embora te banhes sob as caleiras, a monção. Aqui ao cimo da coxa neste prado liso circunvizinho ao teu cabelo ou ao vinco que te talha as costas. Este tornozelo. Serás conhecida entre estranhos como a esposa do descascador de canela. …
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Richard Harrison – poema
Richard Harrison tem cinco livros de poesia publicados. O seu último livro, intitulado Worthy of His Fall foi publicado em 2005. Richard vive na cidade de Calgary, em Alberta, onde é professor de Literatura Inglesa e Escrita Criativa. O Meu Pai Visita o Cirurgião Dentro de cada dia, espero pela morte do meu pai. Comigo espera este livro, redigindo-se a si mesmo. Como todos os livros, este livro, incide os seus olhos frios para o mundo feito à sua imagem. Segura-me a mão, mas prefere fechar-se como todos os livros assim o preferem. Mesmo a Bíblia, esse livro de esperança, dizimou todos os seus leitores só para…
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Gary Geddes – poema
Sandra Lee Scheuer ( Assassinada na Universidade do Estado de Kent, a 4 de Maio de 1970, pela Guarda Nacional de Ohio ) Gary Geddes Poderias tê-la encontrado num sábado à noite a talhar círculos exactos, pela esquerda, no rinque de patinagem Moon-Glo, ou a caminhar apressada entre a cidade universitária e a casa verde de dois andares, onde o quarto estava sempre arrumado, a cama feita, os livros a confraternizar nas estantes. Ela não arremessou pedras, estudava filosofia ou incendiou edifícios, embora os seus conhecidos afirmem que ela detestava guerra, tinha ouvido falar do Camboja. Na realidade ela usava um nadinha de maquilhagem,…
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Patrick Lane – poemas
BELEZA Patrick Lane Outrora eras bela mas de tal já não te recordas o que te torna ainda mais bela. As mulheres mais belas são aquelas que não o sabem. São elas a razão pela qual os homens se deitam ao seu lado no rigoroso respeito da sua graça, desejando pertencer a tal desconhecimento. INVERNO 18 Patrick Lane Nua no quarto vazio a jovem oferece-se. Tal insinuação impossível, tal dança desesperada, tão inadequada só inocência para lhe oferecer. A sua ternura, tão desastrada sem matreirice, deixa-lhe duas possibilidades: transgressão ou transformação. Um ingénuo fiasco. Como ele se faz santo para tolerar o…