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DiVersos nº23 – «Poesia e Natureza» com paulo da costa, Reiner Kunze e Ricardo Lima
DiVersos nº23 – Destaque para o novo Dossier «Poesia e Natureza» com paulo da costa, Reiner Kunze e Ricardo Lima Caso ainda não conheça a revista de poesia DiVersos aproveite esta oportunidade para a se encantar com este projecto que vai comemorar este ano o seu vigésimo aniversário de publicação e tradução. Um feito notável de compromisso e longevidade pela mão do sempre afável José Carlos Marques e da sua equipa. SUMÁRIO DIVERSOS – POESIA E TRADUÇÃO 23 Uma inovação na estrutura da DiVersos, a «etiqueta» POESIA E NATUREZA. Neste número, os poemas de paulo da costa, Reiner Kunze e Ricardo Lima surgem com a etiqueta «Poesia e Natureza». Tal…
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Para lá das Touradas e Hóquei no Gelo
Para lá das Touradas e Hóquei no Gelo – Uma Arquitetura da Identidade Multicultural – Homens que são como lugares mal situados Homens que são como casas saqueadas […] Homens encarcerados abrindo-se com facas Homens que são como danos irreparáveis Homens que são sobreviventes vivos Homens que são como sítios desviados Do lugar Daniel Faria As minhas primeiras memórias, os meus primeiros aromas e sons são de Angola. Um mundo colorido pela sua geografia de calor e perfumado pelas suas culturas, espiritualidades e musicalidades. A minha experiência do continente Africano foi efémera, uma vez que um punhado de anos mais tarde, os meus pais regressaram à sua terra natal em…
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Obligatory reading for the North American Luso Diaspora – impressions by Diniz Borges
Diniz Borges on Beyond Bullfights & Ice Hockey (essays) Just began to read this new book of essays by paulo da costa. The first essay is amazing. Paulo is a great writer. The title of the book is great. Indeed, beyond some of these stereotypical cliches that we slap in the Portuguese experience in North-America. Paulo writes from a Portuguese-Canadian experience, not very different from ours here in the US. I will continue reading this great book of essays and it will be, I’m sure, one of future articles for the Portuguese language press in the US and in the Azores. Congrats to Boavista Press for the publication. Acabo de…
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A Verde e Púrpura Pele do Mundo (conto)
Cara A, Monte das Lameiras, pátio três semanas A manhã desperta e suspira nos pulmões dos pássaros. Inauguro o dia nos degraus da entrada, roupão de banho vestido e a fazer bolas de sabão. A música dos pássaros começa a derreter o ténue véu de geada que encobre o chão. Ligaste-me a noite passada para dizer que não me irias esperar ao aeroporto Pearson. Vais estar em Victoria a visitar a tua tia. Neste canto da Europa o sol brilha por entre o azul de Inverno. Brilham as laranjas nas árvores e os kivis enrugam-se nas ramadas. Toda esta fruta não me seduz a ficar. O melro foi…
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As Asas da História
Oliveiras e sobreiros polvilharão a paisagem abrasadora. Não refrescaremos esta descrição com o vento. Pelo contrário, avivaremos o ardor do sol, tingindo a paisagem de carmesim, enrubescendo a linha do horizonte como o das férias sulistas. A forragem, atrofiada, descansará tranquila, enquanto nós instigaremos um corvo a crocitar e a estilhaçar o silêncio. Colocaremos três pastorinhos deitados à sombra de uma azinheira, chamar-lhes-emos Lúcia, Jacinta e Francisco. Para obedecer a expectativas bucólicas, assim como de coerência literária, iremos rodeá-los com um rebanho de ovelhas. As ovelhas são secundárias à história mas talvez se convertam num mote de menor repetição simbólica. Desejamos subtileza de caracterização. Descrevê-los-emos em pobreza, compar-tilhando azeitonas…
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O Papa – conto de David Albahari
O PAPA David Albahari Quando o Mendoza se benze perante as câmaras de televisão, à saída do relvado, o Papa, empolgado, endireita-se na poltrona. Olha ao seu redor, mas os cardeais dormem serenamente nos seus confortáveis cadeirões. O Mendoza desaparece do ecrã. Nesse instante, o Papa sente de novo o peso da solidão. Entretanto o jogo continua, e ele sucumbe às paixões irracionais do futebol. … O Papa gosta de conversar com os soldados. Eles contam-lhe histórias de lugares distantes que nunca visitou. Muito gostaria de ser soldado – pensa o Papa, detendo-se em frente das tropas em parada. Os soldados chegaram de longe. Estão sujos, empastados com…
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Pedras Parideiras
Francisco guiava a aldeia que o seguia por campos de milho, montes, atravessando ribeiros, para indicar ao povo estupefacto o berço das pedras parideiras. Os corpulentos pedregulhos, descobertos e batizados por Francisco com o nome de pedras-mãe, encobriam a crista do cume e ao longe pareciam indistinguíveis de qualquer outro campo de pedras no cabeço da Serra da Senhora da Freita. Nesse Domingo, a excitação era tal que a missa fora cantada pelo caminho enquanto marchavam sob o nascer do sol raiante. Um rosário de povo seguira Francisco lembrando-lhe o seu próprio rebanho de cabras, não fora as preces que ecoavam das escarpas. Preces mais estridentes que os costumeiros…
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Uma Aragem de Memória
Florindo Ramos adorava árvores, e sempre adorara, desde que num inverno turbulento, quando rapaz ágil, saltando de pedra em pedra, procurando musgo pela orla do rio Caima, escorregara, caindo na rodopiante corrente, «Eu cá teria afogado», contava Florindo às crianças que o rodeavam e atentamente escutavam as suas histórias após o fim das aulas. Com ternura, Florindo acariciou as verdejantes e lustrosas folhas dos rebentos que cresciam sob a copa da mãe ginkgo. Florindo continuou, dirigindo-se às crianças e aos rebentos, «Remei com os braços, mas sem sorte. Afundei num fechar de olhos. Foi então que a minha ginkgo se arqueou, quase pulando da terra», indicava ele com um…
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Satúrnia
ENTREVISTA A PAULO DA COSTA Paulo da Costa é autor do livro “The Scent of a Lie” Depois de conceder esta entrevista, foi galardoado com o prestigioso “Commonwealth Writers Prize 2003 (Best first book)-Caribbean & Canada Region” Satúrnia – Em primeiro lugar gostaria que nos falasse um pouco de si, pois está um pouco arredio daquilo a que se chama a Comunidade Luso-Canadiana. Quem é, como veio parar ao Canadá, o que o faz escrever? Paulo da Costa – Nasci em Luanda, Angola e aos cinco anos de idade os meus pais regressaram a Portugal. Vivi a minha meninice e adolescência em Vale de Cambra, na Beira Litoral. Naquela época,…
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ser português
ser português é nascer com o fado ao pescoço viver de olhos ancorados ao alto mar, ansiar pela maré de partir ou pela onda do regresso viver enlatado entre mar e espanha exportar sardinhas ir à missa e esquecer o sermão é confessar-se a amigos de garrafa na mão é não fazer ondas bastam as que revoluteiam no mar rezar pela paz admirar fátima e batalha na mesma santa visita ser português é amar o carro mais que a si próprio é bastante mais em conta ser português é partir para o estrangeiro josé e regressar joe ser pequeno…